
Quem é a nova MPB?
Por Amanda Moura
![]() Tiago IorcDescreva sua imagem. | ![]() A Banda Mais Bonita da CidadeDescreva sua imagem. | ![]() Bruna Caram |
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![]() Cícero | ![]() Marcelo JeneciDescreva sua imagem. |
Já tentou dar o nome a um texto que ainda não está escrito, dar nota para um filme que ainda não viu ou definir um livro ou uma pessoa só pelos primeiras olhares? Quase todas as tentativas estão fadadas ao equívoco ou à injustiça. Nas artes, os críticos e analistas passam por uma dificuldade parecida: nomear ou classificar um movimento que ainda está acontecendo, às vezes, só começando. Quando a descompromissada juventude carioca da década de 1950 usou o termo “bossa nova”, por exemplo, eles não estavam preocupados em nomear um estilo musical famoso ou nada parecido. Imagine então a dificuldade atual, quando a internet oferece uma saturação de conteúdo musical disponível, para escolher figuras representativas e dar um nome ao que elas fazem.
O que hoje chamamos de MPB e pode ser apontado, sem muita discussão, como uma junção das vertentes da Bossa Nova e do Samba, já gerou muitas controvérsias. As próprias influências que se fundiram no estilo não conviveram sempre pacificamente. É o caso da musa da Bossa Nova Nara Leão, que precisou enfrentar os amigos para subir o morro e resgatar o Samba de Cartola e Nelson Cavaquinho, visto como “gênero inferior”.
Embora essa classificação instantânea pareça uma tarefa difícil e pouco precisa, muita gente ainda se dedica à tentativa. Há alguns anos, surgiu o termo “nova MPB” e ele se refere a uma grande quantidade de artistas de uma nova geração que produz música brasileira nas mais variadas vertentes. Existe ainda a influência do formato “voz e violão”, mas juntam-se traços de indie, folk, pop, samba, rap e até mesmo a música eletrônica. Ou seja, dentro da própria “nova MPB”, tem músicas para muitos gostos. Os nomes que se destacam são, em maioria, de cantores e bandas que ganharam maior visibilidade ou despontaram na década atual, depois de 2010. Alguns deles são as bandas 5 a Seco, A Banda mais Bonita da Cidade e uma grande quantidade de cantores solos, como Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Clarice Falcão, Cícero, Silva, Mallu Magalhães, Toni Ferreira, Bruna Caram, entre outros.
Bruna Caram
O último romance
As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro abrigam vários nomes desse grupo e o ambiente urbano apresenta uma forte influência nas músicas. O carioca Cícero Rosa Lins emplacou, em 2011, seu álbum “Canções de Apartamento”, referenciando o ambiente de muitos dos jovens da geração atual. Já Marcelo Jeneci – que canta ao lado de Laura Lavieri – é paulistano da Zona Leste e mistura influências paulistas com a clássica sanfona do baião nordestino. Acrescentando mais para a diversidade dessa mistura, destacam-se elementos da música internacional, como as características do pop, folk e country nas música de Tiê e Bárbara Eugenia e do rock psicodélico de Thiago Pethit.
A cantora Bruna Caram fala que não se importa com essas classificações. “Pra mim, hoje existe é música universal brasileira, porque essa nova geração bebe de fontes do mundo todo, transita entre influências facilmente, crescemos na era da internet”. Ela conclui dizendo que não liga para o gênero no qual venha a ser colocada. “Eu canto histórias”. Como Bruna comentou, a internet oferece uma grande distinção para essa nova geração de músicos. Muitos deles são jovens e transitam ainda na faixa dos 20, o que os coloca dentro de um grupo que já cresceu sob a influência da internet e está acostumado a usá-la constantemente. Muitos deles, então, utilizam as plataformas digitais como central de difusão de conteúdo e contato com os fãs de maneira muito mais efetiva do que o caso de músicos que adotaram aos meios digitais tardiamente.
No que diz respeito à forma com que os músicos e cantores atuais se estabelecem no mercado, a situação ainda é pouco clara. Enquanto a venda de CDs não é mais o único modo de se vender música, os outros modelos – como o iTunes – ainda não se estabeleceram por completo. Bruna Caram também comenta a situação. “Acho que temos uma riqueza e diversidade de artistas e um empobrecimento no mercado e cenário. A crise da indústria fonográfica ainda está sendo contornada. E existe uma carência de casas de show num país tão grande, plural e musical”, aponta a artista.
A Banda Mais Bonita da Cidade conquistou o público após postar um vídeo da canção Oração no Youtube, foram 2 milhões de visualizações em apenas uma semana (Foto: Ihanna Barbosa)

No que diz respeito à forma com que os músicos e cantores atuais se estabelecem no mercado, a situação ainda é pouco clara. Enquanto a venda de CDs não é mais o único modo de se vender música, os outros modelos – como o iTunes – ainda não se estabeleceram por completo. Bruna Caram também comenta a situação. “Acho que temos uma riqueza e diversidade de artistas e um empobrecimento no mercado e cenário. A crise da indústria fonográfica ainda está sendo contornada. E existe uma carência de casas de show num país tão grande, plural e musical”, aponta a artista
Os fãs dessa geração experimentam a oportunidade de ter um contato mais próximo com seus ídolos. Além do fato deles estarem bastante presentes na internet, alguns shows ainda seguem aquele modelo intimista que quase dá para chamar de “um barzinho e um violão”. Garantir presença em shows, principalmente nas maiores cidades, é uma possibilidade bem possível, visto que vários desses cantores fazem apresentações gratuitas ou a preços populares. As programações das Viradas Culturais em São Paulo sempre contam com nomes relacionados à “nova MPB”.
Isso não significa que eles não têm grande alcance de público. Em 2014, por exemplo, Mallu Magalhões se consagrou com a Banda do Mar, projeto experimental que formou com Marcelo Camelo e Fred Ferreira. A junção da voz feminina da nova geração com o talento do ex-Los Hermanos e o baterista português agradou aos públicos brasileiro e português. Eles apresentaram uma proposta de música leve e descontraída em um clima intimista de parceiros dentro e fora da música.
Outro reconhecimento veio em 2013 para o CD “De Graça”, de Marcelo Jeneci. O álbum foi bastante aclamado pela crítica e ficou entre os 10 melhores discos nacionais na lista da Rolling Stone.