
Música Retratada
Por Ihanna Barbosa
![]() Pearl JamCamila Cara | ![]() SlipknotDenis Ono | ![]() TitãsAle Frata |
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“Este cara deve ter histórias que ninguém mais tem”, diz Alice Cooper no documentário “Rock n’ Roll Exposed: The Photography of Bob Gruen” que conta a história de um dos mais famosos e respeitados fotógrafos da história do rock. “Você consegue imaginar as histórias que este cara tem?”, continua Cooper. Bob Gruen fotografou músicos e bandas como Sex Pistols, Rolling Stones, David Bowie, Led Zeppelin, Blondie, Kiss, Tina Tuner, Ramones, The Clash, Joan Jett, Iggy Pop e acompanhou de perto anos da vida de John Lennon ao lado de Yoko Ono. É dele a icônica foto de Lennon no alto de um edifício com a camisa estampada “New York City” (que havia sido presente do próprio fotógrafo um ano antes). Gruen registrou grandes momentos da música dentro e fora dos palcos em uma época em que a fotografia não era para todos. Hoje, além das maquinas fotográficas estarem mais comuns, qualquer aparelho celular vem equipado com uma câmera. Dependendo da qualidade e do alcance do zoom do seu equipamento, é possível fazer boas fotos de um show, mas sem a qualidade e o olhar de um profissional.
Por 40 anos, Bob Gruen registrou o mundo da música, principalmente se tratando do rock n’roll, fosse nos palcos ou em seus momentos mais inusitados. Não é a toa que os fotógrafos de hoje veem Gruen como uma de suas maiores inspirações. Mas muita coisa mudou desde que Bob Gruen fotografou a banda Led Zeppelin ao lado de seu avião. Hoje, o acesso aos artistas é bem diferente, um fotografo pode tirar milhares de fotos em uma única apresentação e muitos se contentam com uma foto distante, meio desfocada, tirada com seu próprio celular. Ter reconhecimento e ser bem remunerado por seu trabalho é um desafio para os fotógrafos da música atualmente. “São pouquíssimos os fotógrafos que conheço que vivem da fotografia de show. Nem se compara a fotógrafos de outras áreas”, afirma Denis Ono.
Bob





Gruen
Ale Frata, Camila Cara e Denis Ono são fotógrafos de São Paulo, que deixaram suas primeiras áreas profissionais para seguir o sonho de trabalhar com fotografia musical. Denis deixou a faculdade de Design após ter suas primeiras aulas de fotografia, “mudou completamente meu interesse”, conta. Já Frata deixou a carreira de publicitário após mais de 10 anos na área para se dedicar totalmente às fotos e Camila começou a estudar fotografia após ganhar uma câmera Nikon do namorado, “sou mais do que grata pelo impulso. Logo de cara eu já estava fotografando bandas independentes em bares por aí”, conta Camila. Os três, assim como Gruen, compartilham da paixão pela música. Camila queria ter uma banda, Denis sempre fez parte de alguma e Ale tocou bateria por 13 anos em uma banda de hard rock.
“Quando fui estudar fotografia já sabia que queria fotografar shows e tudo que envolvesse música”, disse Camila Cara, inspirada também pelo trabalho do MRossi, um dos mais renomados fotógrafos nacionais. “Ele conheceu minhas fotos de iniciante em 2012 e me chamou para fazer uns trabalhos e desde então trabalho na equipe dele. Aprendi muito e ele me deu, e ainda me dá, oportunidades que eu jamais teria sozinha”, relata Camila, que é também fã do trabalho e da trajetória de Annie Leibovitz, fotógrafa americana que já trabalhou para diversas revistas, incluindo como chefe de fotografia da revista Rolling Stone, entre 1971 até 83. “Acho a história da Annie fantástica e o fato dela ser uma mulher bem-sucedida na fotografia dá um toque especial, ao longo da carreira ela evoluiu muito e buscou outros caminhos, é uma fonte de inspiração”, diz Camila. As mulheres ainda são minorias no meio musical, seja no em cima do palco ou atrás de uma câmera, “para 10, 15 homens tem apenas uma mulher!”, destaca Camila, que afirma acreditar que, apesar de ainda serem poucas, as mulheres estão conquistando seu espaço.
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O momento mais inusitado, sem dúvidas, foi tomar um banho de espuma do Ozzy no Monsters of Rock 2015. Ele mirou direto nos fotógrafos! Foi muito divertido! - Camila Cara
Fotografar uma apresentação é um desafio. São inúmeras as variáveis com as quais o fotógrafo precisa saber lidar; desde a disposição e as luzes do palco até o entusiasmo da banda e plateia. Captar uma imagem que traduza a emoção e intensidade de cada show é algo para profissionais. “Quando as assessorias de imprensa e músicos não conseguem distinguir uma foto profissional de uma amadora, e acabam liberando acesso para pessoas que estão apenas se divertindo, isso se torna um problema”, diz o fotógrafo Ale Frata. A popularização do ato de fotografar pode estar restringindo um mercado já muito restrito, pois além de batalhar por um lugar no pequeno mercado fotográfico, o profissional passa a disputar espaço com fãs munidos de celulares. “Infelizmente é uma profissão desvalorizada no momento, difícil ganhar dinheiro. A maior dificuldade da profissão é sobreviver dela”, afirma Camila Cara.
A maioria dos músicos, sejam novos ou veteranos, ainda sentem ansiedade e nervosismo antes de subir ao palco. É o que mantem o entusiasmo e a satisfação a cada show. Com os fotógrafos não seria diferente; “os minutos que antecedem um show são mágicos e inexplicáveis, e quando você gosta muito de uma banda, isso se torna mais mágico ainda”, conta Ale Frata, que exibe em seu portfólio fotos da banda Kiss, Titãs, Rita Lee, Accept e muitos outros. Camila destaca que é importante chegar com antecedência ao show para não fotografar afobada. “Antes de sair de casa sempre faço checklist, bateria carregada, cartões de memória, lentes, vejo se a câmera está funcionando”, conta. A fotógrafa ainda afirma que não se preocupa em pesquisar setlist ou posicionamento das luzes do show, “na hora eu vejo o que aparece e tento fazer o meu melhor, como um desafio”.
![]() Joss Stone | ![]() Lindsey Stirling |
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![]() Lena Burke | ![]() Otto |
![]() Bruna Viola | ![]() Furia Inc |
![]() Edson e Hudson |
No show do Limp Bizkit, no finado Via Funchal. Entrei pela produção do show, em cima da hora com a introdução do show já rolando, acabei pegando o primeiro elevador que vi. Do jeito que entrei correndo também saí correndo sem nem olhar pra onde estava indo e, sem prestar atenção, acabei saindo em cima do palco, dando de cara com o baixista no meio do show - Denis Ono
O desafio do fotógrafo é estar preparado e aberto para as mais diversas situações, saber analisar o que palco e a energia da banda estão lhe oferecendo e captar o momento, o frame de imagem que represente aquele show. Às vezes é de uma situação adversa que vem as melhores fotografias. Camila conta que no show do Pearl Jam em São Paulo, os fotógrafos na frente do palco não poderiam circular durante o show, então teriam que escolher entre ficar do lado esquerdo ou direito. A maioria escolheu pelo lado onde ficaria a maioria dos integrantes da banda, na metade esquerda do palco, mas Camila acabou ficando com o outro lado. “Começou o show e eu não conseguia fotografar todos os integrantes como queria, porque estavam do outro lado, a luz estava difícil, me arrependi de ter escolhido aquele lado”, conta Camila. Mas foi ao final da terceira canção do set que Camila percebeu uma luz que só os poucos fotógrafos do lado direito poderiam ver; “uma das melhores fotos que já fiz e foi muito elogiada depois”, comemora. Uma fotografia marcante para Ale Frata foi o momento em que Mark tornillo, vocalista da banda Accept, brincou com ele, chamando a atenção do guitarrista Uwe Lullis “ele olhou para trás, tenho essa foto com todo o público ao fundo”, comenta.
Assim como as bandas estão sempre buscando novos trabalhos, novas músicas, shows, projetos; o fotógrafo está imaginando o seu próximo clique. “Já fotografei alguns que queria muito, como o Robert Plant, Kiss, Ozzy, David Gilmour, Arctic Monkeys... outras nunca vou ter oportunidade de fotografar, como Nirvana, os Beatles, Johnny Cash, o Led Zeppelin em sua formação original, já pensou?”, imagina Camila. “A gente sempre deseja o próximo show”, completa Denis. Muitos shows estão por vir para entrar nos currículos de vários fotógrafos e, o mais importante, contar e eternizar momentos importantes do mundo da música. “São essas imagens que contam nos contam a história do rock n’ roll e a passa para a próxima geração”, resume Billie Joe Armstrong, no documentário “Rock n’ Roll Exposed”.
O show do Kiss em 2012 foi um dos primeiros shows dos grandes que fotografei, quando a banda entrou em cena, por alguns segundos achei que que não ia conseguir fotografar, por vê-los tão de perto. Quando eu percebi um ídolo olhando para mim, esperando para ser fotografado, com mais de 30 mil pessoas no local, realmente foi alucinante! - Ale Frata



